terça-feira, março 27, 2007

Os Grandes Portugueses

Foi neste domingo a final do concurso que elegeu o maior português de sempre e que terminou com a eleição de António de Oliveira Salazar como o Maior de todos os portugueses durante estes 864 anos de Portugal.
Eu pessoalmente considero ridículo, humilhante e até ofensivo para todos quantos lutaram durante décadas pela liberdade de expressão e pensamento do povo português. No tempo em que Salazar governou este blog não seria possível e eu não poderia expressar a minha opinião. No tempo em que Salazar governava nem o programa que o elegeu seria possível...
Mas o povo português tem uma memória muito curta e quando as coisas estão mal apenas sabe dizer que no tempo do outro é que era bom, sem mudar uma palha (legalmente) para que a sua situação melhore. Compreenda-se que nem todos são assim, que nem todos são curtos de consciência e se deixam levar pelos pensamentos dos outros sem procurar os seus próprios pensamentos. Portugal teve ao longo da sua História inúmeros casos de grande valor, pessoas de que nos temos de orgulhar pelos seus feitos, muitas delas não são conhecidas e não deixam de ter o seu valor por isso. Mas Salazar não será certamente uma delas...
Dir-me-iam que Salazar teve virtudes e que em certos casos fez o melhor que pode por Portugal (por vezes conseguiu) como o fez ao manter Portugal à margem da 2ª Grande Guerra, o que não impediu a minha avó de passar fome e correr com muitas outras crianças para uma fila onde davam os restos de um cacau que não era para eles. Mas essas virtudes perdiam-se no meio das suas atitudes de perseguição e tortura a todos quantos se suspeitasse que pensavam de maneira diferente. Podia continuar a descrever os erros que foram cometidos numa época em que felizmente não vivi mas penso que não é necessário.
A todos quantos votaram em Salazar posso apenas chamar ignorantes por ignorarem após tão pouco tempo as dificuldades que se viveram ao longo do Estado Novo e as dificuldades pelas quais o país passou durante quase meio século em que este durou.
Não considero que o eleito certo fosse também Álvaro Cunhal cujo grande mérito foi a luta que encetou contra a ditadura de Salazar, mas que pela sua dedicação ao regime soviético me faz crer que apenas não instalou uma nova ditadura, desta feita comunista, porque não o deixaram. Mas como é possível comparar Salazar com homens como D.Afonso Henriques, sem o qual não existiria Portugal, Infante D.Henrique, D.João II ou D.Manuel I, cujos esforços (entre o de muitos outros, incógnitos ou não, da época) deram ao Mundo um novo mapa e trouxeram grandeza a Portugal, ou a Aristides Sousa Mendes, que por sua conta e sob grande risco salvou milhares de vidas de uma morte certa, provando uma compaixão jamais mostrada por Salazar?
A minha escolha, e apenas por gosto pessoal, recaía sobre Fernando Pessoa e compreendo que nem todos possam gostar do seu trabalho, não esperando por isso que ele ganhasse a eleição, o que não posso compreender é que alguém, por mais inculto que seja, vote naquele foi para mim um dos piores portugueses de sempre. Não o considero o pior pois o pior para mim é outro que ainda estará por aparecer, mas essa é uma outra discussão.

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